A vida do Marx daria um filme - Feliz aniversário Karl Marx!





 “A chave para entender um grande homem não está nas conquistas em campos de batalhas ou em triunfos públicos, mas em suas vidas pessoais.”

Plutarco

*** 

Aqui estou eu de novo. Hoje é (ou melhor, seria) o aniversário de quem? de quem? ahá! do bom e velho vovô Marx, isto mesmo o maldito Marx para alguns, é… Mas não para mim, não pra mim… E muito certamente não para a Radio 4 da BBC, que em 2005 elegeu o vovô como o filósofo mais foda (não com estas palavras, obviamente) do reino de God. Interessante por que o comunismo foi praticamente varrido da inglaterra, mas...

Hipster Marx


O que eu queria dizer á vocês, gente sem paciência do Brasil, trata da influência do Marx no mundo a partir do meu, e só do meu egoísta ponto de vista.

Pense bem, por que eu acho que nunca paramos para pensar na importância dele, pois se não fosse pelo Marx hoje nós viveríamos em um mundo muito mais cruel e monstruoso do que já é. Gramsci diz que o Marx foi a entrada da inteligência na história, por isto não creio estar sendo o que a Veja chamaria de comunista extremista. Pois bem, se não fosse o pensamento marxista tudo seria diferente na história do mundo, a segunda guerra mundial, a Rússia teria outra história (um país alterado indiretamente pelo pensamento de um único homem) e mesmo hoje, será que o PT seria o PT? Digo o de 89, não o de hoje.

Marx Modelão.

Toda vez que acho que minha vida está indo pras cucuias, penso no Marx. Digo, na sua vida pessoal.

Ele não gostaria disso, aliás, ele já disse antes que somente as ideias devem ser importantes, não quem pensou, por que as pessoas são falhas e as ideias nem sempre. Mas seja como for, eu gosto de pensar no Marx comum. 

O cara jovem que vivia se metendo em duelos na juventude, uma vez se meteu em um duelo com um cara que era tipo um militar de alta patente de seu tempo. Vivia se metendo em bebedeiras e clubes de poesia. Sabia a Divina Comédia do Dante de cor. Um cara curioso que se casou com uma mina rica (Jenny era filha de um Barão e professor universitário) que largou tudo pra ser uma pobre ferrada com ele. 

Demorou sete anos para eles se casarem por que não conseguiam dinheiro, uma vez um espião dos EUA vai na casa do Marx pra ver como ele era na vida pessoal. Ele dizia que ele dormia o dia todo, por que ficava a noite toda acordado escrevendo, fumando e tomando chá forte que nem cerveja, que ele era um cara animado e piadista e que pra ir na sua casa, você tinha que levar muito tabaco pra ele. Isto está num livro da vida do Marx de Leandro Konder.

Teve uma penca de filhos, sendo que vários morreram. Quando foi preso sua mulher foi presa por não querer se separar dele. Eles vivem juntos por quase quarenta anos e quando ela morre, Marx escreve pro seu parça Engels:  

"Você sabe que há poucas pessoas mais avessas ao patético-demonstrativo do que eu; contudo, seria uma mentira não confessar que grande parte do meu pensamento está absorvida pela recordação de minha mulher, boa parte da melhor parte da minha vida".

E em menos de um ano morre de tristeza.

Procure a história da vida dele para conferir...

Jenny e Karl Marx
Mas é preciso lembrar que o Marx não era santo, Eleanor, uma de suas filhas, descobriu em 1895 que Marx não apenas tivera um caso com Helene Demuth, a governanta da família, mas engravidou a serviçal durante uma viagem da mulher.

Vish... Pense na treta... Pois é, nem o Marx escapou. Assim ele trai o movimento e a mulher...

E outra coisa, o Marx era filho da pequeno burguesia do que era a antiga Alemanha, com sei lá uns 40 reinos divididos. Bom que seja, uma curiosidade, a Phillips, essa dos eletrodomésticos, é da família da mãe do Marx, sabia dessa? De nada ehauehauheheauehuaehhahueh

Bom, como dizia...

A família do Marx era Judia, mas por causa de umas tretas na política do seu tempo (procura lá) ele teve que virar cristão, mudou o nome de Mordechai, e por tradição deveria ter virado Rabino, tipo um padre Judeu... Maaas, Deus tinha outros planos pra ele e Ele achou melhor o Marx dizer que a Religião era o Ópio do Povo e manipulava os mais pobres, e sendo assim, o Marx vira o Marx que conhecemos hoje. Outra coisa curiosa é que as pessoas só conhecem a frase "Religião é o ópio do povo", mas a frase completa é:

"A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo."

Veja que curioso...

Ou essa aqui:

"Jesus faz milagres e dá, o homem não faz milagres e vende."

Enfim... Dai quando o pai morre, ele fica mais bêbado e mais pobre e fodido, mas ainda era o aluno mais foda da Universidade de Berlim. Um dia, por felicidade do destino, o Marx conhece o Barão Ludwig von Westphalen. Que meio que adota o Marx por causa do seu brilhantismo. Muito marotamente, o Marx se liga na filha do Barão, adivinha quem é? Ela mesmo: Jenny. 

Daí que o véio não curtiu o Marx se engraçar com a filha dele.

Primeiro por que ele era um fodido e segundo por que a Jenny era quatro anos mais velha que ele. E a sociedade alemã, não achava da hora um cara mais novo casar com uma mina mais velha, tinha que ser o contrário, mas o Marx tava pouco se fodendo pra sociedade alemã. Daí, adivinha o resultado?

Casaram, lógico.

A família da Jenny viu que ia dar merda e já deu logo uma bolada pros dois viverem bem por um tempo, só que o que aconteceu foi o seguinte:

 “Em uma semana de lua de mel, o dinheiro já tinha sumido, pois Karl e Jenny presentearam uma legião de amigos duros. Já a prataria e joias passaram mais tempo em casa de penhores que nos armários da família. Embora os Von Westphalen tenham convencido os noivos a assinar um acordo responsabilizando cada parte por suas dívidas, Jenny nunca cobrou nada de Marx”, 

Quem disse isso foi o jornalista Francis Wheen em uma biografia do Marx.

Então a família Marx se muda pra França pra começar sua vida política, que resultou em muita merda, por que como ele não trabalhava eles viviam sempre na pobreza, quarto filhos morreram de desnutrição como resultado da sua extrema pobreza.

O povo não perdoava, viviam sendo humilhados e o Marx era sempre visto como parasita que nunca fazia mais do que escrever sobre política. Por que ele deveria procurar um emprego e viver como todo mundo vive. Tinha dias que a miséria era tanta que eles tinham que vender até as próprias roupas pra viver. Viviam sendo despejados e enganando os donos dos lugares que alugavam pra terem onde morar.

E a Jenny lá...

Eu adimiro MUITO a Jenny Marx, ela aguentou tudo do lado desse bosta, sem nunca abandoná-lo. E tem mais, o Marx escrevia mal PRA CARALEO, agora como? É um mistério. E a Jenny corrigia seus textos e reescrevia algumas coisas por ele, então, o Capital e tudo o que você lê hoje, os originais em alemão foram corrigidos pela tia Jenny...

E ainda era bonitinha... A Jenny é a de pé.

Pois bem, e claro tinha o Robin Engels, que deixou de escrever suas coisas pra ajudar o parça... Vivia dando dinheiro pra eles não se foderem mais ainda, já teve vezes do Engels mandar dinheiro picado em vários envelopes pra não ter roubo, por que os Marx moravam numa espécie de Zona Leste da Alemanha. 

Quê? Você é da ZL? Pô desculpa aí... Mas cê tá ligado né...

O Engels era rico, e quando morreu deixou uma boa parte da herança pros filhos vivos do Marx. E se não fosse por ele, também não haveria Marx... Nas cartas do Marx pro Engels, você via como ele era engraçadinho. Tipo uma que ele escreve o seguinte:

“A única luz no horizonte é a doença de um tio reacionário de Jenny. Se o patife morre, eu saio desse aperto.”

É, mas o fulano num morreu...

E quando o Freddy - filho do adultério do Marx - aparece, o Marx desesperado pede para o Engels segurar o B.O e adotar o pimpolho, e claro, o Engels segura... Quando a Jenny descobre o rolo ela quase morre, mas continua com ele...

A ideia era que o Marx estava escrevendo o "livro que ia mudar o mundo" e tudo ia mudar. Nisso estavam certos, mas mudou tarde demais para eles...

Jenny, Laura, Eleanor, e Karl Marx, com Friedrich Engels, em 1864


Batman e Robin

Pois é.

Mas como acaba a história?

Bom, em 1881 a Jenny morre e deixa o Marx na estrema fodedura da vida, depois de quarenta anos de casamento, daí ele escreve pro Engels o trecho que coloquei acima. Por causa dos problemas com o álcool e o tabaco, O Capital só seria terminado 16 ANOS depois do prazo... E quando saiu, foi incompreendido e não mudou porra nenhuma.

Bom, dai que um ano depois, 14 de Março de 1882, o Engels vai visitar o amigo e o encontra morto, sentado a beira da lareira... Com um abscesso no pulmão por causa do tabaco, só onze pessoas foram ao seu enterro.

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Agora é com vocês.

***

Então, é esse o Marx que admiro. O cara que parece ser eu, você, seu vizinho, seu amigo. Um cara com uma vida fantástica, ainda que cheio de defeitos e problemas. O cara que, com tudo isto, foi um dos maiores gênios da humanidade. 

Não sei bem o por que deveríamos refletir sobre um homem que morreu a séculos atrás, á bem da verdade este homem pode ter morrido, mas seu pensamento ficará para sempre, ou na Esquerda ou na Direita, veja bem, já disse isso antes aqui, o Sr. Delfim Neto, que assinou o AI-5 e tal, possui a maior biblioteca marxista do Brasil. Eu se fosse a direita eu estudaria o Marx com força, por que tendo medo dele, eu o estudaria para poder "derrotá-lo". 

Mas aí é que a coisa fica feia, por que o Marx só perdurou por tanto tempo, por que ele traduziu de modo extremamente racional, uma vontade que todo ser humano tem e terá em qualquer período histórico: a Liberdade e a Emancipação do homem. E isto nunca será derrubado, não importa quantas Vejas, Globos, Movimentos de Direita, Tatchers e sei lá mais quem lutarem, um dia a casa cai.

Ele falava aos simples, mesmo sua obra capital, O Capital (!) foi escrito para ser entendido por operários das fábricas capitalistas. Seu pensamento influenciou quase todas as áreas de estudo nas ciências humanas. Mas sabe quando eu admiro o Marx de verdade, quando eu vejo uma pessoa simples que entende mais da teoria dele do que uma pessoa que estuda anos a fio, isto por que percebeu o que ele realmente queria dizer.

Vou explicar melhor dando um exemplo. Quando era criança eu li um livro do Hans Christian Andersen, que muitos de vocês podem ter lido também, chama-se: A Pequena Vendedora de Fósforos. A pobreza e a humilhação psicológica de uma criança mudou meu pensamento por toda a minha vida, quando ela morre no final do conto (sim, eu contei o fim, mas se você não leu, tem um video no youtube, deixe de ser vagal e procure!) alguma coisa morreu com ela.

Prepara pra chorá

Com o Marx foi a mesma coisa, quando ele morre pobre, expatriado, viúvo, doente, com filhos mortos pela fome, pela doença, até por suicídio, alguma coisa morreu com ele, para mim esta coisa se chama conformismo.

Depois de Marx a pobreza nunca mais foi vista do mesmo jeito. E se você é um desses que acha que eu exagerei na dramatização da vida do Marx por que sou um comunistinha de merda, A escritora Mary Gabriel, no seu livro Amor & Capital, conta uma pra você não dormir hoje: Quando Franzisca, morre por causa de bronquite, logo após o primeiro aniversário. Sem dinheiro nem para o caixão, Jenny “guardou” o corpinho gelado da menina no quarto dos fundos e juntou as camas do casal e das três outras filhas no outro quarto, para que chorassem juntos até que alguém pudesse emprestar a ninharia necessária para acabar com aquela situação.

Então me diga, este homem estava certo ou não em lutar contra a miséria e a opressão? Contra as injustiças sociais? Contra todo o modelo capitalista destruidor do seu tempo e mesmo do nosso? Este homem deu a vida para que as coisas mudassem e saiba que deu certo, pra você ter uma ideia, os manuscritos originais do Marx estão guardados em um abrigo contra bombas no Arquivo Nacional da Rússia, tamanha sua importância. O mundo mudou depois dele colocar uma pena sobre o papel. Curioso que muita gente odeia o Marx e sua obra e eu me pergunto o por quê? Acho que o Marx ia contra o mundo egoísta e tenebroso que persiste em continuar a ser como é. Acho que ele lutava contra toda forma de opressão, contra as ideologias opressoras de seu tempo, contra tudo que destruía a vida das pessoas e contra o que destruiu a sua própria. 

Marx, Jenny e Engels poderiam ter levado uma vida comum e mandarem tudo a merda, Ele poderia ter se formado e vivido como escritor, Jenny e Engels eram ricos, não precisavam se sacrificar, mas outra pessoa escreveria e talvez passasse por tudo o que ele passou, ou ninguém escreveria e o mundo seria muito pior.

Pense nas jornadas de trabalho infinitas, nas propriedades de terra quase feudais, no roubo quase infinito da mais valia do século XIX, pense nas fábricas e nas jornadas de trabalho, enfim, em tudo o que mudou depois de Marx. Pense nas análises sociais que puderam existir depois dele, György Lukács, Gramsci na cadeia, a Escola de Frankfurt, Celso Furtado, Florestan Fernandes, até mesmo no Rock e o Punk como protesto social.

Os pobres tinham como lutar com o cérebro. Este foi o legado do seu sacrifício.

E como eu sou pobre…

É isso minha gente, até a próxima e um grande abraço!



Minha querida,

Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder...

A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.

No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (...) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado - mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.

Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis... eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.

Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés, 

Sempre teu,




Comentários

  1. Que romântico, Takaki! Até compartilhei com uns parças ai... <3

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  2. Porra Carol valeu mesmo! Esse post foi tipo minha Horcrux, foi uma das melhores coisas que já coloquei energia até hoje! Mas a melhor coisa é o reconhecimento!

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  3. Vi, li e entendi sua projeção na vida do Marx, a angústias e sofrimentos, mais próximos empiricamente do ser humano de hoje... Quanto a sua obra... Ainda vou "enfrentar" O CAPITAL no devido momento... Ótimo texto

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