50 Tons de Cinza, Machismo e Misandria



E antes do ultimo post esfriar no esquecimento, vem mais esse pra mostrar que esse blogue não tem um pingo de coerência nem amor próprio.

Então o 50 Tons de Cinza venceu... depois de muita resistência de minha parte, ele cercou a casa, cortou suprimento e finalmente capitulei e assisti ao filme.

E você deve estar se perguntando, e aí? Por que fazer um post sobre esse filme inútil?

Primeiro, por que já tem tempo que quero falar sobre alguns assuntos que podem ser colocados aqui, segundo por que acho que o 50 Tons é muito melhor do que as pessoas julgam, melhor dizendo, 50 Tons é um filme muito bom e melhor do que muita porcaria que tem aparecido no cinema hoje em dia.


Você agora.

Tô ligado que você já se arrepende amargamente de ter cruzado os umbrais do Cérebro Voltaiko neste momento, mas antes de você praguejar sobre minha alma cansada e já muito praguejada por aí, peço que leia meus argumentos até o final pra entender por que eu acho que o filme do 50 Tons de Cinza é um dos melhores filmes de romance feito nos últimos tempos. O que já não é surpresa, dado que já falei mal de Demolidor, Game Of Thrones e Doctor Who...

Então vamos começar...

50 Tons de Cinza e o machismo




Aaaaaaaah já vai começar com discursinho né? É, talvez... O caso é que eu sinto que TENHO que falar de algumas coisas.

Como já disse antes, em outro post, eu tive uma amiga que o namorado não deixava ela assistir/ler o filme/livro por que era livro de mulher vagabunda.

Bom, vamos refletir um pouco sobre isso. Fragmentando o discurso.

Primeiro, por que não poder ler/assistir alguma coisa? Esta é a primeira coisa que falo, por que logo de cara muitos homens e mulheres se privaram, ainda que inconscientemente, de assistir ao filme, com a desculpa de que era uma coisa machista, dominadora e tudo mais.

Vou voltar na ideia contrária depois, mas por enquanto a ideia é que o 50 Tons de Cinza é a favor das mulheres.

É a favor por que permite as mulheres a possibilidade de sonhar, ainda que na base de um folhetim literário. Mas me diga, qual é a estrutura básica do folhetim ou da ficção?

O Folhetim basicamente se garante na continuidade dos leitores e da história, normalmente simples, com diálogos fugazes para agilizar a história e claro, sem muito aprofundamento de conteúdo, política e historicidade.

Então, 50 Tons se encaixa, tanto no livro, como na versão filmográfica.

Mas pra que essa diferenciação?

Fiz esta especificação para mostrar que no final das contas, o mundo masculino tem, precisamente, AS MESMAS CARACTERÍSTICAS DE 50 TONS DE CINZA.

Oooooooooooooooh!

Pode parecer o cúmulo do óbvio, mas não é. Cansei de ver gente, homens principalmente, falando mal de 50 Tons de Cinza por que as mulheres se identificavam com a narrativa por manterem o ideal do cara rico, bonito, bem sucedido e que a Anastasia só se submetia ao Christian por que ele tinha dinheiro.

Mas.

Me digam o que é a idealização feminina na cultura popular?

Se a "submissão" de Anastasia se dá pelo dinheiro e aparência, o mesmo acontece nos homens na questão sexual, não importa as características emocionais ou psicológicas da mulher, mas sim os seus atributos físicos.

Se eu colocar aqui todas as mulheres da cultura popular, vocês vão perceber que quase 80 ou 90 por cento delas é esteriotipada e claro "gostosona".

Ora, de aparência em aparência qual é a diferença?

Na questão estrutural do folhetim a comparação é mais absurda ainda. Veja as histórias em quadrinho por exemplo. Com algumas exceções, a maior parte é apenas folhetim. Linguagem rápida, história superficial, sexualidade para adolescentes e tudo mais.



Meu amigo, a Mulher Maravilha - que já esteve pro feminismo, assim como os X-Men para o preconceito racial - É uma mina gostosona com maio de látex e sua arma é uma corda...

E você vem me falar mal de 50 Tons de Cinza?

Qual o problema de uma mulher idealizar um cara rico, bonito e bem sucedido? Até onde eu sei, os homens idealizam as mulheres de um modo bem pior, ou totalmente "irreal".

Irreal no seguinte sentido: Perfeitas.

Perfeitas no seguinte sentido: Não reclamam de nada, são sexualmente ferozes, possuem corpos perfeitamente esculturais, não conversam a não ser que seja do assunto que lhes agrade, nunca traem, nunca desejam outro homem, sequer acham bonito. São virgens, puras e castas e nunca sentem nenhum desejo sexual, a não ser claro, com eles. E como disse acima, quando for sentir, tem que ser com muita força.

Bom, mas não é só isso.

Continuando a fragmentação, por que não poder assistir, agora, por que não assistir por ser um filme/livro de mulher vagabunda.

Se você colocar 50 Tons de Cinza no Wikipédia ele descreve como "O Pornô das Mamães":


Hum... Pornô das mamães... Por quê? Já se perguntou?

Por que as "mamães" muitas vezes são esmagadas pelo peso das preocupações diárias E do sistema patriarcal machista com todas as características que coloquei acima, sendo assim, muitas vezes o "escape" vem pela ficção.

Já CANSEI de falar aqui no blog, que eu mesmo sempre considerei quadrinhos, filmes e livros como escapismo, citei que quando era adolescente, amava as histórias do Demolidor por que eu me identificava com ele e vivia nas suas aventuras.

Ah, já entendi o problema... As mulheres não deveriam fantasiar com coisas torpes e indecentes correto?

Não acha um tanto quanto, sintomático, que o livro 50 Tons tenha sido vendido á trinta milhões de pessoas? Tá digamos que num universo muito questionável, metade tenha sido para homens, e o resto? Por que será que trinta milhões de pessoas se interessaram tanto por este livro?

Um dos maiores problemas com o tabu da sexualidade é a proibição e a castração feminina, as mulheres não tem o DIREITO de desejarem sexualmente um homem, muito menos se envolver sadomasoquismo, ainda que leve. Muito menos ainda, por ele ser rico e bonito.

Mas enquanto isso, o PornHub e o XVideos batem recorde de visualizações ao redor do mundo.

Perceba que o machismo chegou ao seguinte nível: Já que não podemos controlar, vamos ridicularizar.

Por que é isto que acontece. 50 Tons é livro de vagabunda, é Pornô das Mamães, portanto, não deve ser sequer lido ou visto.

Mas acontece em um nível sutil. Não tem lá, a reunião dos "macho do mundo" pra definirem isso, mesmo por que, se isso acontecesse não iam decidir nada por que iam ficar ouvindo Funk, assistindo futebol, bebendo cerveja, fumando narguilé, vendo filme pornô, falando de carros........

Acontece na esfera social, meio que no inconsciente coletivo Jungiano, se aproveitando da coerção social durkheimiana.

Tá difícil entender? Não tá não, é o seguinte, todo mundo faz o que foi ensinado, como o machismo foi ensinado, a maior parte defende os valores que aprenderam com o tempo, defendendo por exemplo, que as mulheres são assexuadas e devem permanecer assim, sempre sob o julgo da vontade masculina.

E a sacada da Erika Leonard foi dar o troco, mulher pode desejar sim, pode ser masoquista sim e pode desejar o cara rico sim.

Claro que com isso vieram muitos problemas, então vamos para a próxima parte:



50 Tons de Cinza e a misandria



Misandria é, segundo o Wikipédia, o ódio, preconceito ou desprezo a pessoas do sexo masculino, mas também pode ser usado para definir aquela sua amiga que acha que você não pode discutir feminismo com ela só pelo simples fato de... Bom... Tá ligado né? Ter um pênis...

Veja, não sei se você já passou por isso, mas sempre tem aquela moça feminista que acha que as experiências são incognoscíveis. Ora, para você defender o feminismo tem que ser mulher, para defender o movimento negro, tem que ser negro, e assim por diante, por que só quem é, sabe como é.

É, mas não é bem assim.

Sabe por que não? Por que tem uma coisa chamada comunicação e linguagem.

O Ser Humano é resultado do que lhes é ensinado, acabei de falar isso ali em cima, quando citei o Durkheim, o John Locke falava isso na teoria da Tábula Rasa. Então, se a linguagem não servisse para nada, então cada ser humano que viesse pra este mundo de desgraça, teria que aprender como funciona o fogo, a roda, a matemática TUDO DE NOVO.

E, bom, não é assim né...

Você homem, de acordo com o feminismo misândrico

Mas que diabos tem isso a ver com 50 Tons de Cinza?

Tem que por causa disso, algumas vezes é difícil argumentar alguma coisa contra certas feministas.

Uma coisa é você não concordar com o padrão de interesse das mulheres, como por exemplo o modelo rico-bonito-inteligente-bem-sucedido, outra coisa é você culpar todas as mulheres que desejam este padrão.

Não estou sendo claro, vou melhorar.

Por que este tipo de fantasia é culpável? Até onde eu sei, metade ou quase todos, os homens do mundo não são assim. Aliás, eles estão muito, mas muito longe de serem assim, no entanto, eles vivem e se relacionam. Gostar de 50 Tons de Cinza não é algo que muda muito as relações mais do que elas já estão.

Contudo...

Há sempre a culpabilização e a inferiorização de quem gosta de 50 Tons de Cinza. Como quem diz:

"Bom, você quer um príncipe encantado na sua vida? Então você é uma mulherzinha idiota que não sabe como o mundo funciona, é uma iludida, uma coitada que não sabe o que é a vida de verdade"

Devo dizer que a padronização do rico-bonito-inteligente-bem-sucedido (pra não incluir, branco, americano etc...) é um problema, mas não é por isso que não exista e não é por isso que as mulheres devam ser crucificadas por gostarem deste padrão.

50 Tons de Cinza não é diferente de TODOS os romances que existem por aí, a estrutura é a mesma, com a única diferença que introduziu um sadomasoquismo bem softcore no enredo. E olha só, MUITO softcore, por que com um pouco de imaginação, você pode deduzir que tem coisa muito mais tensa por aí...

Outra coisa é a questão da mulher se submeter ao homem no jogo do sadomasoquismo, mas devo lembrar que foi com consentimento de ambos.

E aqui entra a misandria de novo.

A mulher não pode se permitir ao sadomasoquismo, desta vez por uma questão, não ligada ao patriarcado, mas ao próprio feminismo.

A mulher não pode querer apanhar por exemplo. Isso me lembra uma frase, muuuuuuito controversa do Nelson Rodrigues:

"Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais"

O que é absurda, por que isso incentiva práticas monstruosas como a violência doméstica e o estupro.

Mas e se a mulher quiser apanhar e ligar isto ao prazer?

Complicado né?

E a Erika também achou, por que ela faz questão de deixar isto bem claro no livro, colocando várias páginas de contrato de permissão, o filme também, como se pra dizer para o espectador mais lesado das ideias: "Se liga babaca, ela realmente quis isso"

Daí que já vi várias feministas falarem mal do livro e do filme por causa disto, como se a mulher se submetesse ao sadomasoquismo por que estamos em uma sociedade tão machista que as mulheres se submetem ao homem sem perceber.

Oras, sem perceber?

Então você desconsidera toda a opção intelectual da mulher e passa a pensar e decidir por ela?

Hum... Interessante...






Bom... Como ia dizendo. 50 Tons de Cinza é um dos melhores filmes românticos que saiu nos últimos anos. Isto por que foi MUITO ousado com as cenas de sexo, digo, para um filme comercial.
Ver cena de sexo em filme cult é uma coisa, outra coisa é num filme comercial de grande cobertura.

E as cenas são bem feitas, quer dizer, nada de muito pesado ou gratuito, estão na medida certa por assim dizer, muito boas para um pornô mamãe...

Mesmo assim, muita mamãe por aí achou pesado demais. O que volta no tabu da sexualidade. A negação da sexualidade feminina. Digo isto por que homens podem ver pornografia sem nenhum problema social, mulher não.

Mulher pode engravidar, homem não.

Homem pode fazer sexo, mulher não.

E só por isso já valia o ingresso, mas além disso, o filme foi muito bem produzido. A trilha sonora é perfeita (olha só, vou contar um segredinho, estou ouvindo a trilha agora) e encaixa na hora certa. O melhor exemplo é como encaixa Crazy In Love da Beyoncé. Sensacional.

De mais a mais, não sei se o filme foi feito tanto pra mulheres também.

Ou melhor, para mulheres heterossexuais. Isto por que a Anastasia aparece mais pelada do que o Christian.  Tem até nu frontal dela, coisa que não tem do Mr. Grey.

De novo o machismo.

O que vende mais? Mulher pelada ou homem pelado? E por quê?

Pois é...

A estética do filme e as locações são fantásticas de bunitas.

Agora, muita fã reclamou por que perderam-se muitos detalhes do livro, o final do filme e do livro por exemplo são diferentes, mas como só li o livro até a metade, não sei o que dizer disso.

E aliás, antes que você me pergunte, o livro é uma bosta.

Muito mal escrito, estilo narrativo MUITO ruim. Mas só por isso.

E acho que o filme foi bom também por que entregou o que prometeu: Um romance.

Muito bonito, diga-se de passagem. Coisa que os dramas da modernidade estragaram.

E o principal, ninguém morre no final...

Já disse isto antes, no Wordpress, ODEIO filme romântico que um dos dois do casal morre no final. Sou um romântico clássico e exceto o Moulin Rouge do Baz Luhrmann, eu absolutamente odeio filme romântico sem Happy End. Foda-se!




Pra mim é sintoma da modernidade egoísta, uma sociedade que não tolera romance e amor. Uma sociedade onde o individualismo se reflete no cinema, onde não pode haver casal, mas DEVE haver romance para sustentar a industria cinematográfica, para tanto mata-se um dos consortes.

*SPOILER*



No final, os dois não ficam juntos, mas como sei o final da trilogia, sei que vai dar em Happy End, então caso não haja muita alteração do roteiro, acho que não vou querer matar os produtores do filme...

*FIM DO SPOILER*


*** 

Conclusão... 50 Tons de Cinza é um filme muito bom, não é perfeito, mas não é uma bosta. E muito menos é uma bosta pelos motivos errados. Por isso eu recomendo que assista ao filme, se for homem e sua mulher assistiu, assista com ela e mantenha a cabeça aberta, não seja um bosta. Você não deve ser bilionário, seja pelo menos bonito e inteligente... Pode crer que ela não está com você á tôa...

Se for mulher, se permita mais, viva o que você achar melhor, não tenha vergonha de nada, corte as cordas que te amarram e seja feliz com seus sonhos e desejos, por mais estranhos que possam parecer...

É isso aí, espero que tenham gostado do post, se curtiu dá uma força aí, por que eu não sou bilionário e apesar não ganhar um Real com este blog, curtida é sempre bom e deixa blogue fortinho...

E tenha paciência que o post dos filmes de Abril vai vir em breve... Um abraço e até a próxima postagem, se Yahweh quiser...



Comentários

  1. Não assisti ao filme pelos motivos que acaba de citar mas abri minha mente e agora sei porque não vou assitir realmente um abraço.

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  2. EUAEHAUEHUAEHUAEHUAHEUHAEHAUEAEHHAUHUEAHAUEEUEHAHEAUHHEUAHHEUAHEUHEUAHE WELL, WELL... pelo menos, motivo já tem!

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  3. Primeiro: muito melhor com esse novo "papel de parede".

    Entrando no assunto, é polêmico sim. Vou resumir. Gostei da história por ir quebrar esse clichê sobre mulheres não gostarem de sexo, por ser uma oportunidade para mulheres falarem sobre sexo, por fazer muitos homens rejeitarem cenas de sexo (pornô pode, tratar mulheres como objeto sexual em vários outros filmes/histórias também pode, mas se é voltado ao público feminino e faz sucesso não pode!). Ah, sei lá... Hoje em dia se todo mundo tá falando mal, eu já fico com um pé atrás... Mas acho que é bem isso que você falou mesmo sobre controlar por não poder ridicularizar. Sim, o livro é ruim, sim, a história tem outros problemas, mas tem orgasmos da protagonistA (sim, só pra reforçar: de uma mulher) e isso nunca foi tão popular.

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  4. Então, esse foi o melhor papel mesmo, acho que vai ficar um tempo aí, mas o próximo também é bonito, vamos ver...

    Então, complicada a questão por vias de gênero, veja, não sou contra o erotismo, aliás, nem um pouco contra, achei um absurdo quando a Marvel contratou o Milo Manara pra fazer algumas capas e depois retiraram a capa da Mulher-Aranha de circulação por que disseram ser sexista. Ora, o Manara é um dos maiores desenhistas de arte erótica vivos, por que esta reação? Se fosse assim, metade da Renascença ia pro saco de cara. O problema é bem esse, a sexualidade e a sexualidade da mulher. E é bem isso mesmo, hoje em dia se o povo fala mal, aí que eu vou ver, por que na maioria dos casos tem coisa errada no meio. E acho que o que a E.L.James fez, mesmo "malfeitamente", foi dar o troco. Tipo um We Can Do It mal escrito, mas foi um primeiro passo, e se ninguém perceber isso, acaba caindo no esquecimento.

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