Stan Lee e os Quadrinhos Maravilhosos



Postado originalmente em 02/06/2011




Háaa!, pensaram que o Blog havia falecido? Sim, o Blog teve um período de abstinência mas já esta de volta do túmulo úmido e frio. Entretanto, como eu já falei mal demais da Raçinha Humana hoje eu vou tentar falar bem.

Amanhã se o mundo não se findar, será a estréia do filme X-Men: Primeira Classe, pois bem, eu não vou explicar quem é quem, não vou analisar o filme, não vou fingir que manjo muito de cinema e fazer um monte de críticas esnobes, por certo não vou postar nenhuma foto do filme, para isto existem outros blogs.

Então, por que eu citei a estréia do filme? Por que eu queria falar sobre como os quadrinhos (os da Marvel em especial) alteraram minha vida.

Não sei se você incauto que esta lendo este post é um nerd/geek (ou pousa de) ou mesmo se sabe quem são os X-Men, mesmo assim eu vou escrever por que acho pertinente.

Quadrinhos ensinam coisas pra caramba.

Por exemplo, eu estava mais ou menos com seis ou sete anos quando ganhei meu primeiro gibi, era um reedição de uma história dos X-Men que foi publicada na época pela editora Abril. Era uma revista velha e surrada que minha prima não quis mais e me deu.

Era a saga da Fênix.



Mas eu só saberia por que era tão importante anos depois. A primeira coisa que os quadrinhos me ensinaram é que o mundo pode ser bem maior do que parece. Aprendi a desejar este mundo.


Hoje eu sei que este mundo, cheio de mutantes, heróis e super-poderes não existe. Mas outra coisa que eu aprendi é que a nossa vida é tão negra e comum que nós buscamos outras realidades além das nossas para mantermos a sanidade. Como uma espécie de Peter Pan que cria sua Terra-do-Nunca se recusando a crescer.


Sem usar drogas crianças, não era este tipo de fugere urbem que eu me referia…


Nossa vida é repleta de chefes estranhos e incompreensivos, rotinas, metrôs lotados, eleições, partidas de futebol, tele-jornais, festas de fim de ano no escritório, namoradas e namorados infiéis e Reality Shows.


As pessoas precisam ver a vida dos outros para se distrair da própria, depois tem gente que julga infantil alguém que lê quadrinhos.


Mas outra coisa que eu aprendi com os quadrinhos é que a ficção é mais verdadeira que um relato jornalístico, seja ela qual for.


Um relato pode ser maquiado, editado e manipulado para transmitir informações a gosto do editor, a ficção porém, pode ser editada e reinventada o máximo possível que sempre trará a realidade no seu bojo, Shakespeare dizia naquela famosa frase que ‘os políticos usam a verdade para contarem mentiras e os atores usam mentiras para contarem verdades’.


Nos quadrinhos dos X-Men aprendi sobre preconceito, sobre tolerância até sobre Shakespeare. Melhor dizendo, lendo X-Men, me interessei pelo bardo. Isto por que tem um quadrinho deles que o fera, na época meu mutante favorito, lia Shakespeare pendurado de cabeça para baixo. Tudo isto junto com rajadas ópticas, poderes telecinéticos, raios e super-jatos. 

É a ideia da escola de Frankfurt (menos do Adorno, por que pra ele mídia era uma merda e tal, em contraponto com Walter Benjamin, mas isso é outra treta, deixa pra lá...): se não se pode dar a arte temos que fazer o povo procurá-la, não com estas palavras, claro.




Com o tempo aprendi muito com a Marvel, aprendi que neste mundo fantasioso um jovem nerd, pobre e órfão pode ganhar super-poderes, enfrentar vilões e casar com uma ruiva maravilhosa, tudo isto por causa de uma simples picada de aranha. e de uma tragédia familiar


Aprendi que neste mundo fantasioso um jovem pobre, cego, criado pelo pai bêbado boxeador e abandonado pela mãe pode se formar e ser super charmoso, apesar das suas limitações. Ele pode ser católico se vestir de demônio e fazer o serviço dos bons.


Aprendi que neste mundo fantasioso, sempre haverão belas mulheres, bravas, fortes e poderosas (no caso da Marvel, também podem ser ruivas). 


Aprendi que se um homem usar uma camiseta negra com uma caveira ele pode fazer tudo usando os raciocínios bélicos mais mirabolantes possíveis (apesar de que o Justiceiro é um herói muito duvidoso, eu gosto, mas nos dias de hoje, não sei se ele é um modelo interessante de herói, mas isso fica pra outro post). Aprendi que ninguém morre de verdade… Por que na Marvel... né... Aprendi que é legal um cara com crânio flamejante rodando o mundo numa moto tapeando o diabo e ouvindo AC/DC. 


Aprendi a gostar de Química e Biologia. Aprendi como o ódio poderia ser mortal e perigoso (lembrando sempre, eu tinha seis ou sete anos, heim… Se você não percebe isto até hoje, se entregue pra polícia) Mais do que tudo isto, eu aprendi a sonhar. Por que sonhos justos mudam a realidade injusta.


Mas temos que fazer as ressalvas, todo o crédito seria dado á Stan Lee, que não sei se é um malandro oportunista ou um gênio moderno. E antes de você, marvete hater, tacar pedra e tramar minha derrota, pense comigo, Stan Lee revolucionou o mercado das HQs, criou um modelo a ser seguido, fez escola portanto, mas como? De fato ele mudou o paradigma do herói "indestrutivo", quase um "Semi-deus" da DC, com o Homem-Aranha e o Quarteto fantástico, era o advento do herói mais parecido e mais fácil de identificação com seus leitores, Parker, o nerd fodido, O Quarteto, uma família disfuncional, cheia de problemas internos. Mas para um Parker e quatro fantásticos, existe uma onda de plágios insustentáveis da DC. 

Claro que a DC fez o mesmo ao longo dos anos, mas em menor quantidade e com menos descaramento também. (outra ideia babaca que a DC copiou foi a continuidade ad infinitum, mas isto também fica pra outro post) 

Ao longo dos anos Stan Lee criou os X-men, que inicialmente não era nada parecido com os X-Men que conhecemos hoje, Sugiro que leiam a coleção "X-Men edição histórica", " Stan Lee - o Reiventor dos Super-Heróis" e "Marvel Comics - A História Secreta".

Stan tinha um titã nas mãos, mas não se deu conta do projeto que tinha, nem ele nem os outros criadores não tinham noção do monstro que tinham criado, com o tempo, e com as diversas mudanças sociais e editoriais, os X-Men tornaram-se o sinônimo de luta contra o preconceito nos quadrinhos.





Até chegarem os anos 80 e 90. Onde o advento da era de chumbo criou heróis muito estranhos como o Homem-de-Ferro alcoólatra e o Justiceiro, um herói que mata. 


Ai está, por exemplo, uma das diferenças entre Marvel e DC, o apreço pela vida. 


Mas, disse que ele podia ser um picareta oportunista, por que muita coisa é creditada a ele, muita coisa não foi criada por ele e muita coisa aconteceu sem a vontade dele (a morte da Gwen Stacy por exemplo).


Muita coisa de que imaginamos ser ideia dele, veio de editores, outros roteiristas, outros desenhistas, diretores de filmes, criadores de jogos que no final ampliaram o universo criado por ele.


E houve uma mudança tão grande na criação e desenvolvimento dos personagens, que até o próprio Stan diz, em uma entrevista pra Playboy que não acompanha e nem gosta muito do que a Marvel se tornou. Segue a entrevista:

É o típico "endeusamento" criado pela indústria cultural em torno dele, ele mesmo deixa claro isso na entrevista. Claro que acontece, mas não deveria. Como disse logo acima, o Stan criou muios personagens, mas o que hoje chamamos de Marvel não foi criado por ele. Aceite isto. Em alguns casos, sequer tiveram sua interferência direta. Stan criou uma estrutura, o prédio foi construído por muitos outros autores, sendo que muitos deles cagaram na obra...





Ou isso ai foi bom? 


De qualquer modo o Stanley criou muita coisa inovadora e possibilitou um novo modo de fazer quadrinho, tem um episódio sobre o Stan que gosto muito, havia uma espécie de "Clube da Marvel" onde o leitor poderia se filiar, ter uma carteirinha e enviar cartas, o Stan respondia a todas, todas, até a do Gene Simmons, é esse Gene mesmo. Pois ele disse que o Stan respondeu sua cartinha e disse, entre ouras coisas, que um dia ele ia ser um grande homem. Gene lembrou se disso em uma entrevista e, em lágrimas, abraça Stan Lee.








*** 

A obra de Stan Lee, marcou minha juventude e por isso merece sua homenagem, ainda que ela não venha em um altar... E aí? falei merda? Sou trouxa? Sim, eu sei... Comenta aí, se curtiu da uma compartilhada nos face e até a próxima!



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